beta(m)xreis, pronomes ela/dela, pessoa transfeminina não-binária, é uma multiartista, com foco principal em poesia escrita. Possui interesses variados: educação, tradução, revisão, antropologias e psicanálise lacaniana. Publicou dezessete (editora Nega Lilu), Lobo Bobo (pdf autopublicado), e Casa Pelo Cacos (selo Lola Edições) com Rosa das Neves. É editora da “Revista Tem Base?!” Acredita piamente que escrever é para todes.
legados
a palavra ar
parece
herdeira
direta
de um tempo primevo
onde as coisas mais fortes
se diziam
com economia
tal qual sol
tal qual lua
tal qual tu
à banda do dono
sou a puta porca, a avassaladora,
a que devora e preza pelo buraco sem lugar ou hora
a que reflete lua e arrota sol
a que punge e urge! dentro cada! derrocada!
sou a punga perversa, sou a própria vera,
cadáver em festa de pulos, sou ponte e muro,
rumos, abandonos, charcos, montes
sou a mesma! a inversa!
a que range quando noite longa
a que rumoreja nos baixios
a que pousa lenta e sempre! lenta e sempre
sobretudo ao abandono
herança
mãe
por que tu me fizeste
à tua imagem e semelhança?
ilusória moratória
não
não habito as palavras
o que as digo, ou a vocês, se
elas que reinam em mim
no que assim se escapam
de um jeito que não vibre
parece que me torcionam
ao que se façam luz
nas cordas de violão
a ressonar
aqui se faz aqui se paga
e o que não se pagou
há de se vir como plaga
pois foi um pai
que meteu a palavra em mim
e foi um não
eu que na verdade sem casa
e as palavras também sem casa
e todas juntas
se casam
em marquises
ao contrário do que se esperava
(ao estylo
amor-livre) é que
às vezes o poema se revolta
eis a volta:
devo, não nego
pago assim que der
Desenho de Ariyoshi Kondo.